domingo, outubro 29, 2006

E-music.

Eu não fui criada ouvindo New Order ou Kraftwerk. Meus pais nem desconfiam o que venha a ser isso. Mas em algum momento da minha adolescência, eu fui parar numa galeria obscura em SP, onde fui introduzida às batidas hipnóticas e repetitivas da música eletrônica. E foi naquele momento, que eu me emocionei. Não era só a música, mas existia uma cultura em volta. Depois desse dia eu acabei aficcionada por tudo isso. Não, eu não era mais obrigada sair para dançar funk ou ouvir músicas ruins. Eu descobri a Bunker, onde eu podia ir sozinha, e ir ver o DJ tocar. Só tinha gente maluca mesma, e eu era só mais uma numa multidão. E eu tenho que confessar que eu adorava sair sozinha, sem conhecer ninguém. Começar a entender aquele universo, as mixagens. Aí eu comecei e ir mais fundo. Fundei um grupo de discussão de música eletrônica no Rio, chamado Cenacarioca, que depois teve o nome roubado por um integrante do grupo. Tive meus 15 minutos de fama. Tinham 200 assinantes, a maioria dos Djs do Rio. Realmente se discutiam coisas interessantes lá. Eu frequentava todas as festas interessantes do Rio e SP. Fiquei amiga das pessoas que faziam a cena acontecer. Tive tentativas frustradas de fazer uma festa. Frequentei os after hours obscuros, a época do disco Inferno. E isso eu ainda era baby, tinha uns 17 ou 18 anos. E era tudo muito divertido. Durou um tempo essa fase. Mas aí eu comecei a ter outras coisas. A faculdade que era tranquila, já não era mais. Já não era mais tão fácil virar a noite e ir pro hospital. Tive que pegar mais leve. E com isso eu me afastei um pouco desse universo. Mas continuei ouvindo música eletrônica, em menores proporções.
Sexta feira eu fui assistir ao show do Daft Punk. Logo na abertura eu fiquei arrepiada. Apesar de não ter sido criada na cultura de eletrônicos, ela virou uma parte intrínseca minha, e eu não imagino mais o mundo sem isso. Um amigo meu mais velho disse que não tinha opinião formada sobre o show, que achava que talvez se estivesse "high" tivesse gostado mais. Realmente, a minha geração é adepta das drogas sintéticas; no geral a geração música eletrônica é fã de diferentes estados de consciência para entretenimento. Mas no meu atual momento, eu consigo um desligamento total de outros ambitos através da música. E é isso talvez uma das coisas que mais me impressiona. Eu não podia estar mais careta no show, e ainda assim foi uma puta experiência. Acho que somos de gerações diferentes, e a minha incorporou a e-música de tal maneira, que temos conceitos diferentes.